Vídeo Ciranda da Bailarina
Lidando com os erros e com a diversidade
Ciranda
da Bailarina
Chico Buarque
e Edu Lobo
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda as seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...
Análise:
A Ciranda da Bailarina é uma canção
despretensiosa de caráter infantil. O que mais chama a atenção é a
singularidade de sua personagem: “A Bailarina” a qual a canção se refere, é
diferente, não é igual a ninguém. Não se assemelha a nenhuma pessoa de nossa
realidade, homem ou mulher, menino ou menina.
Todos nós compartilhamos de alguns defeitos (ou não) referidos no
texto. Todo mundo teve, tem ou poderá vir a ter algum deles, assim como tantos
outros não mencionados, menos a Bailarina. No entanto, esse “não ter” ao invés
de desqualificá-la, produz efeito contrário e lhe confere um “valor especial”
que se constrói progressivamente ao longo da canção. Seus predicados nesse
sentido não se enumeram em si, mas vão se tornando evidentes por oposição
àqueles do mundo presente, do qual se insiste, ela absolutamente não faz parte.
Todo mundo carrega alguma marca, sofreu
algum incômodo, doença, dor, fraqueza, a Bailarina, porém, é imune a tudo isto,
protegida das limitações da gente humana ao longo da história cantada na
canção. Os fatos corriqueiros que nos afetam e muitas vezes deixam seus traços
ao longo de toda a vida, para ela não existem, nem nunca quaisquer cicatrizes
lhe causaram. Mesmo uma das experiências fundamentais de qualquer ser vivo, o
envolvimento afetivo, emocional e decorrências naturais de um “primeiro
namorado” ela não apresenta. Isso deixa claro, que a Bailarina não é mesmo
humana, não é alguém do “mundo da gente”, não pertence a esta dimensão da
realidade que costumeiramente habitamos.
Cursista: Maria
Lúcia Linhares